Editorial
AMARE nasceu, de forma muito humilde, logo no início dos anos noventa do século passado. A principal força motriz para a fundação da AMARE era a determinação de alguns jovens que ansiavam criar um lugar mais digno para a “molecada” que vivia a mercê da própria sorte. A situação nas ruas da pequena cidade era deprimente e dramática. Naqueles tempos, havia centenas de crianças, descalças e descamisadas, com a barriga inchada de verminoses, que povoavam as ruas de Esperantina, no Piauí. A meninada lutava pela mera sobrevida, vendendo pipoca, milho assado e picolé, pedindo um “trocado”, quebrando pedras para a construção de casas, fazendo carvão, cometendo pequenos furtos. Os meninos frequentavam a escola somente nos raros dias em que esta oferecia a “mistura”, ou seja, a merenda.
Sem meios financeiros, os jovens sonhadores abriam mão do seu tempo livre e se doavam para as crianças, os “meninos de rua”, como eram chamados. Seria ousado demais de querer lembrar de todos que se doaram por esta causa, em mais de três décadas. Foram centenas, quem sabe, até milhares de pessoas do bem que contribuíram com o crescimento da AMARE. Era gente que colocava a mão na massa, juntando pedras para o alicerce na construção da sede, debaixo do sol, que defendia os interesses das crianças aguerridamente contra a má vontade de administradores públicos, de cobradores da fazenda pública, de invasores e de oportunistas.
Senhoras enfiavam o “Livro de Ouro” debaixo do braço e foram coletar contribuições para a cobertura do teto da sede. Outros abriam as portas nas secretarias de governo. Um amigo inesquecível providenciava infalivelmente o leite diário, gesto, até hoje, seguido por seus familiares. Na Alemanha, meninos lavavam carros dos vizinhos, senhoras vendiam pão de mel ou assavam pizzas, em noites geladas e com neve. Meninos Cantores da Estrela desejavam um Feliz Natal para ajudar as crianças da AMARE. Até hoje, não falta gente solidária para restaurar dente cariado, levar baldes de sorvete no Dia da Criança e bandejas de bolo recheado no Natal. Ah, e há um colaborador muito especial que já deu “um jeito” em inúmeros computadores e impressoras quebrados.
Os benfeitores da AMARE fazem parte de todas as esferas sociais, de todos os cantos da cidade, da longínqua Alemanha, jovens e aposentados, pobres e pessoas de posses. Eles vieram de Esperantina no começo, mas se alargavam, como círculos concêntricos no espelho do lago, chegaram a outras regiões do Brasil pelos que emigraram. Eles formam um pequeno exército que conquista os corações pela suave força da solidariedade humana.